quarta-feira, 18 de julho de 2018

Quebra-cabeças

Alane Nascimento, na foto de Victor Uchôa que ilustra a matéria Depois do desemprego vem o desalento publicada na Piauí
Digo tudo isso por dois motivos. O primeiro é a convicção que vai se sedimentando na sociedade segundo a qual o capitalismo brasileiro se especializou não propriamente na ousadia ou na fúria de seus agentes principais, os empresários. Historicamente vistos como a força subjetiva essencial desse modo de produção, no Brasil aparece com um estamento despreparado para impulsionar em larga escala as estruturas da sociedade que abriu caminho para eles desde a 2a metade do século XIX. Nossa burguesia aprimorou sua obsessão pela supressão de direitos mais do que pela obsessão de investimentos e de expansão da produção. Essa aposta exclusiva na exploração da mais-valia - como se vê agora com a reforma trabalhista - fez o país regredir e o resultado é o que se vê: uma sociedade deprimida que se desconstitui como mercado e como força de trabalho.

Uma boa lição sobre esse atraso que se diz moderno foi dada aos próprios empresários por uma de suas musas neoliberais, a presidente do Goldman Sachs no Brasil, Maria Silvia Bastos Marques. Para ela, é a melhora da produtividade que funciona como elemento fundamental para o crescimento sustentado do país, não as tais reformas que estão liquidando com nossos direitos sociais: "reformas são importantes, mas é preciso ambiente de negócios melhor", disse ela referindo-se ao baixo astral vivido por uma classe que espera algum milagre para que saia do atraso. Vale a pena ler a matéria do Estadão sobre a palestra da economista em evento promovido pelo jornal.

O segundo motivo é o apoio velado que os empresários, capitaneados pela Confederação Nacional da Indústria, estão oferecendo a Bolsonaro nas suas pretensões de chegar à presidência da República. O militar foi um dos participantes da série de seminários que a entidade promoveu com os presidenciáveis e durante sua fala foi aplaudido 12 vezes pelos presentes numa clara demonstração de simpatia por suas declarações. Indagado sobre o significado desse gesto, o presidente da CNI justificou: "... se foi aplaudido é porque gostaram do que ele falou, principalmente naquilo que ele demonstra de autoridade em relação a alguns desmandos que existem no Brasil". Não estamos preocupados com a direita. Queremos um presidente que tenha consciência da situação do Brasil e que possa colocar o Brasil no rumo do crescimento", acrescentou (leia a entrevista de Robson Braga de Andrade no Uol).

A tradução livre do que o líder empresarial disse é uma só: preferimos a ditadura. Aliás, essa sempre foi a preferência do estamento do capital e esse vazio político que se criou em torno das candidaturas de "centro" só se explica pela opção, hoje claramente manifesta, por uma ruptura institucional pela via eleitora, o que não é exatamente um paradoxo na democracia burguesa, como Hitler demonstrou em 1933.

Penso que o quebra-cabeças



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